O que meus sonhos querem me contar?

Letícia Dias
3 min readMay 5, 2020

--

O Começo

A inspiração bateu na minha porta um milhão de vezes. Todas as vezes a recebi, mas quase sempre não ofereci um café. Na minha casa sempre tem café, e ela sabe.

Aqui dentro é tudo muito intenso, profundo, complexo. A casa é grande e a cozinha longe da sala. A porta de entrada fica na sala. Algumas partes são caminhos que já decorei, outros são espaços desconhecidos ou pouco explorados. A casa é um templo, uma imensidão, feita de cantos, laços e embaraços.

Precisa de coragem para oferecer o café, começar uma conversa, estar pronta para ouvir. Quando se é uma astronauta flutuando no espaço, tudo fica desconexo. Sentimentos, emoções; quase sempre era uma alegria gigante, ou uma tristeza na mesma proporção, impossível de compartilhar.

“Se você tem uma cicatriz profunda, ela é uma porta; se você tem uma história muito antiga, ela é uma porta. Se você gosta do céu e da água tanto que mal consegue aguentar, isso é uma porta. Se você anseia por uma vida mais profunda, mais plena, por uma vida sã, isso é uma porta”. Clarissa Pinkola Estés — Mulheres que correm com os lobos.

Não viver as profundidades da alma fecha as portas e empoeira as entranhas. Tranca a garganta, enferruja os pulmões e faz nascer calos que impendem os pés de caminhar. Criar é a chave para o arrebatamento da mulher que somos no âmago, no profundo interior do ser.

Carta Roda da Fortuna — baralho @notrastarot das belíssimas Elisa Riemer @elaysariemis e Paula Mariá Riemer @mysticaeselvagem

E foi assim que tudo começou, abrindo a porta e oferecendo um café, ela a inspiração. Uma Estrangeira, astronauta flutuando no espaço, mas com raízes em comum, histórias e encantos. Em comum com a essência do feminino e do desejo de se (re) conhecer.

“Por vezes, tudo que o ego desconhece, mistura-se à sombra, incluindo as mais valiosas e nobres”. Carl G. Jung — O Homem e seus símbolos.

Estudar a psicologia analítica e vivenciar os poderes do autoconhecimento, no papel de paciente, enquanto psicóloga, tem sido uma experiência bonita ao ponto de não querer deixar de registrar nenhum dos mais impressionantes capítulos dessa jornada. Cada sonho é um convite para uma nova porta desconhecida do templo, e eu quero desbravar os corredores.

Quanto ao tarô, é fantástico se enxergar, se perceber e se imaginar na jornada da heroína. A volta a casa, o retorno ao lar. A leitura e a interpretação baseada nas vivências diárias abrem caminhos inexplorados na infinidade que é o inconsciente da gente. Me guio pelo poder da imaginação, e é fascinante, uma viagem sem fim, que me faz sentir abraçada pelos meus próprios braços. O tarô surge como ferramenta poderosa, complementar aos estudos e sentimenos, com possibilidades de conexão com o interior.

Escrevo então sobre os símbolos, as mulheres, e todas as heranças existentes no mais profundo espaço da nossa psique, dando vida aos personagens, vestidos de mim mesma, profundos em cada estado do ser, completos e complexos, com o único objetivo de acolher quem sou.

--

--

Letícia Dias

Psicóloga, curiosa, louca por histórias, ler e escrever. Em um longo processo de autoconhecimento, sorrindo por aí enquanto observa a vida correr.